segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Carona.

O amor passou por mim. Estava indo no sentido contrário e me ofereceu carona. Aceitei. Mas só o fiz porque pensei que fosse virar o retorno e seguir o meu caminho. Mas era esperar demais de uma pessoa que eu acabara de conhecer. Não desisti. Era amor. Segui seu caminho. A casa era toda dele, tudo era do modo dele. A pintura, a decoração, os pratos. Até eu era do modo dele. Mas me cansei daquilo tudo. Não tinha me cansado dele, mas tinha me cansado de ser só pra ele. Podíamos ter sido nossos - nossa casa, nossa pintura, nossa decoração, nossos pratos. Precisei de um tempo pra me reconhecer, pra voltar a ser minha. Saí de casa por um dia, fui buscar por mim mesma. O amor passou por mim. Estava indo no mesmo sentido que eu e me ofereceu carona. Recusei. Eu tinha alguém e devia respeito. Voltei pra casa, não havia sentido buscar por mim, eu só seria eu se fosse do modo dele. Cheguei em casa e tudo estava diferente, minhas roupas estavam dentro de caixas. Ele me disse que passou pelo amor, ofereceu carona e eles estavam indo na mesma direção. A casa que era dele e minha, agora é deles. Do modo deles. Porque eles se encaixam. Eles se merecem. E eu estou aqui, sentada, vendo um monte de amor passar. Me oferecem carona, mas vou deixá-los passar. Eles são todos iguais. Vão pegar um amor aqui e largar no próximo quarteirão. Mas continuo a espera de um amor - que, ao invés de carona, me vai oferecer o próprio.